segunda-feira, 20 de julho de 2009

Lizzie Bravo, a brasileira em uma gravação dos Beatles.


Muito já foi dito sobre aquele Fevereiro de 1968, que mudaria para sempre a história de uma brasileira que, na época, tinha 16 anos e estava em Londres desde Fevereiro de 1967. Bom, para contar o que aconteceu naquele dia, é bom que voltemos um pouco mais na história para entender o que se passou até a data citada. Elizabeth Villas Boas Bravo nasceu no Rio de Janeiro no dia 29 de Maio de 1951. Segundo palavras da mesma, ela teve seu primeiro contato com a música dos Beatles a partir do LP "Meet The Beatles", de 1963. Quase que de imediato ela nutriu uma paixão, não só pela banda, mas em especial por John Lennon. Então, no seu aniversário de 15 anos, ela pediu a seus pais, como presente, que deixassem ela ir a Londres e acompanhar o dia-a-dia dos ídolos. Pode até parecer uma idéia maluca deixar uma filha de 15 anos viajar para um outro país sozinha. Mas, para a sorte dela (E nossa também), os pais dela deixaram e ela foi! Lizzie, como ela mesma se nomeou ao ouvir "Dizzy Miss Lizzie" do disco "Help!", de 1965, chegou a Londres no dia 14 de Fevereiro de 1967 e já teve, no mesmo dia, um primeiro contato com os Fab. Ela ia, a partir desta data, diariamente para a porta dos estúdios da EMI aonde os Beatles gravaram praticamente todos os seus discos e singles. Além do estúdio, Lizzie, juntamente com um grupo de fãs do qual ela era parte, que seria conhecido mais tarde, em 1969, como "Apple Scruffs" (Que fora eternizado por George Harrison na música de mesmo nome do álbum "All Things Must Pass"), também ia nas casas de Paul em Cavendish Avenue, de John em Kenwood e em qualquer lugar que elas descobrissem que os rapazes (chamados por elas de "the boys") estavam.

















Lizzie em Penny Lane, em 1968.


Em uma dessas, no dia 4 de Fevereiro de 1968, elas estavam na porta dos estúdios esparando pelos rapazes, quando Paul surge na porta e então pergunta: "Alguma de vocês consegue segurar uma nota bem aguda?". Lizzie, que havia cantado em coral no Brasil, sem saber do que se tratava, disse prontamente: "Eu consigo!". Paul então pediu que aguardassem e que logo estaria de volta. Quando voltou, Paul pediu para que Lizzie o acompanhasse até os estúdios. Lizzie entrou no lendário estúdio 2 da EMI e deu de cara com todo mundo. Ringo, George, Mal Evans, George Martin e até seu amado beatle favorito: John Lennon. Chegando lá, ensinaram o verso que ela iria cantar: "Nothing's gonna change my world". Ela pediu para chamar uma amiga sua, pedido que foi aceito e que fez com que a jovem inglesa, Gayleen Pease, entrasse para a história juntamente com Lizzie. John havia dito para Lizzie que ela devia cantar bem perto dele, pois o microfone era direcional, o que a deixou mais nervosa e emocionada naquele momento. Durante a gravação, Lizzie podia sentir a respiração de John que estava cantando com ela a apenas alguns poucos centímetros de distância e dizia "Closer, closer!", pedindo pra ela se aproximar ainda mais. Depois de cantar do ladinho de seu ídolo, Lizzie recebeu o convite de Paul McCartney para cantar no mesmo microfone que ele, convite que foi aceito. Embora Lizzie estivesse com sua câmera, não sobrou nenhum registro, que não a gravação já pronta, desse dia. Mal Evans, o roadie dos Beatles, estava tirando fotos com sua câmera, mas depois Lizzie fora informada que as fotos não ficaram boas.

















Lizzie ao lado de John.


A gravação em questão é da música "Across the Universe" que foi usada naquele ano em um álbum chamado "No One's Gonna Change Our World", que além dos Beatles, tinha Cilla Black, Bee Gees e outros. Lizzie voltou pra casa no Rio só no outro ano, 1969. Ela continuava indo diariamente para a porta dos estúdios e vendo os Beatles depois do dia da gravação. Depois do fim dos Beatles ela chegou a se encontrar com todos, menos com John. A versão gravada com Lizzie e Gayleen pode ser encontrada atualmente nos discos "Past Masters Vol. 2" e "Rarities". Em 1969, "Across the Universe" ganhou uma outra versão, dessa vez sem backing vocals, e saiu no disco "Let It Be" em 1970.


















Capa do disco "No One's Gonna Change Our World" em que saiu a versão de "Across the Universe" com Lizzie e Gayleen nos backing vocals.



The Beatles - Across The Universe (1968 - com Lizzie Bravo e Gayleen Pease):



The Beatles - Across The Universe (1970 - Let It Be):



Lizzie Bravo, com certeza é a figura mais importante da beatlemania nacional e, sem dúvida alguma, uma das duas fãs dos Beatles mais sortudas de todos os tempos. A outra? Sua companheira de gravação, Gayleen Pease, é claro!

2 comentários:

  1. Passados tantos anos desde que ouvi "I Want to Hold Your Hand" e como milhões de outros fui afetado para sempre, é impossível não ficar maravilhado como os Beatles ainda afetam e influem na vida de tantas pessoas. Teu blog é fantástico, parabéns. Com relação à Lizzie, fica a pergunta: "O que seria de todos nós sem os Beatles, e hoje o que seria de todos nós sem a Lizzie?"

    Grande Abraço,
    Mick Wilbury (the only Wilbury that never traveled...)

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